Hospitais públicos e particulares registram cada vez mais pacientes com suspeita de terem sido infectados pela bactéria Streptococcus pyogenes, responsável por quatro mortes no Distrito Federal. Na última segunda-feira, uma criança de 7 anos, estudante do Colégio Maristinha, na 609 Sul, teve a confirmação de contágio pelo micro-organismo, mas foi tratada na rede particular e passa bem. Ontem, mais um caso assustou a comunidade escolar. Um menino de 5 anos, aluno do Jardim 2 do Centro de Ensino Candanguinho, no Sudoeste, apresentou a bactéria e foi afastado das atividades do colégio.
O estudante do Candanguinho sentiu dor de garganta e febre. A mãe, que é médica, resolveu levá-lo para diagnóstico num hospital particular. O garoto também não teve complicações na saúde, mas, após a descoberta, a direção da escola orientou que os pais levem os filhos ao médico caso eles apresentem qualquer sinal febril ou até mesmo gripe (veja fac-símile). Além disso, a higiene nas salas de aula foi reforçada com a utilização de álcool em gel. “A gente não sabe se outro aluno pode pegar a bactéria se compartilhar objeto e, por isso, estamos pedindo para que as crianças lavem as mãos mais vezes e que evitem colocar brinquedos na boca, por exemplo. Os professores estão em alerta”, destacou a coordenadora pedagógica Virgínia Vargas.
No Colégio Marista de Brasília, a direção comunicou, em nota, que a família do aluno do 2ª ano do ensino fundamental “espera os resultados definitivos dos exames complementares para descartar a possibilidade de contágio pela bactéria Streptococcus pyogenes”. A direção do colégio salientou que está adotando as recomendações de higiene e segurança sanitárias dadas pela Secretaria de Saúde do GDF e que todos os integrantes da comunidade Marista vêm recebendo as devidas orientações preventivas. Na tarde de ontem, porém, alguns pais demonstravam apreensão. “Não recebi nenhum comunicado da escola e vou me informar sobre essa nova situação”, disse a designer de interiores Tatiane Rabelo, 32 anos. Ela estava acompanhada do marido, César Limp, 40, e do filho Thoe, 5.
A Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do DF afirmou que nenhum dos dois casos foi notificado e que os resultados devem ter sido gerados depois da realização de um teste rápido, não significando que a criança desenvolveu a bactéria. Em nota, o órgão ainda ressaltou que “cerca de 5% a 15% da população possuiu o Streptococcus nas vias respiratórias. Dessa forma, as notificações positivas dos testes rápidos não implicam doença ou Streptococcus pyogenes”.
A corrida às unidades de saúde tem provocado lentidão no atendimento. Na noite da última segunda-feira, o Hospital Santa Luzia registrou tempo de espera de até três horas em alguns casos. A demora ocorreu em decorrência da chegada de uma criança em estado grave, que demandou mais atenção das equipes de pediatria e enfermagem. No entanto, a consulta de pacientes que chegam com sintomas da bactéria, como dor de garganta e febre, tem demorado em razão da necessidade de uma avaliação mais detalhada. A gerência do hospital destacou que “desde o início da divulgação dos casos de mortes confirmados em decorrência da bactéria no Distrito Federal, os médicos perceberam um aumento na complexidade dos casos de crianças que chegam ao hospital, além de uma maior demanda de pacientes, o que torna o tempo de consulta maior e requer a solicitação de um número maior de exames”.
Diante da situação, o número de pediatras atendendo no pronto atendimento será ampliado ainda este mês. “Acreditamos, no entanto, que é um problema sazonal, principalmente por estarmos em um período do ano em que existe uma grande quantidade de crianças com quadro gripal e doenças como faringite e amigdalite”, destacou a gerente médica do Grupo Santa Luzia, Gabriela Miquelino.
Máscara
Na última sexta-feira, o comerciante Marco Túlio Curado, 42 anos, sentiu fraqueza enquanto trabalhava. No mesmo dia, ele teve forte dor de garganta e febre. Então, procurou um hospital particular, no qual ficou diagnosticado que estava com a bactéria. “Minha garganta fechou. Nunca vi um trem desses. A médica fez a cultura e deu positivo. Imediatamente, ela me deu uma máscara e receitou antibiótico por uma semana. Além disso, eu ainda tomei benzetacil. Só ontem (segunda-feira) apresentei melhora”, contou ele ao Correio. O filho Thiago, 7 anos, apresentou tosse e, por precaução, Marco o levou para o hospital. O menino teve apenas uma alergia.
No Hospital Regional da Asa Norte (Hran), a pedagoga Janaína Teixeira Valadares, 26 anos, teve de usar máscara. Ela diz sentir febre e dor de garganta desde o fim de semana. “Fizeram a triagem e disseram que eu poderia estar com amigdalite. Depois veio uma médica e perguntou quem estava com sintoma de gripe. Coletaram o meu material da garganta e de outras pessoas, mas depois da consulta ninguém disse nada sobre o resultado. Receitaram antibiótico e outros dois remédios que eu não sei se são para combater esse tipo de bactéria”, disse.
De acordo com a Secretaria de Saúde, não há motivo para alarde, pois não existe um quadro epidêmico. “Em todos os quatro casos de morte registrados no DF pela bactéria, os pacientes estavam debilitados por outras enfermidades e, portanto, com o sistema imunológico enfraquecido”, explica a nota.
Palavra de especialista
“Essa bactéria normalmente não apresenta resistência contra antibióticos. O que pode acontecer é de algumas cepas produzirem toxinas e, então, elas têm potencial de provocar manifestações mais graves e levar ao óbito. Nesse caso, trata-se de uma característica da bactéria, que é mais virulenta. Pode ser um surto. Mas a Streptococcus pyogenes é curada com derivados da penicilina e não costuma ser resistente. Ela é uma infecção comum e ocorre mais em crianças, mas pode ser diagnosticada em testes rápidos e tratada facilmente.”
Antônio Carlos Pignatari, professor de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Fonte: Correioweb
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