O presidente da Síria, Bashar al-Assad, disse que espera começar a entregar as informações sobre armas químicas a organismos internacionais um mês após Damasco aderir à convenção internacional contra armas químicas.
A informação foi dada em entrevista à TV russa, segundo a agência RIA.
Assad também apelou para que os EUA deixem de ameaçar seu governo e de ajudar os rebeldes que combatem o regime. Ele afirmou que só cumprirá o acordo proposto pela Rússia se os americanos cessarem as ameaças.
"A Síria está colocando suas armas químicas sob controle internacional por causa da Rússia. As ameaças dos EUA não influenciam a decisão", disse Assad à TV estatal Rossiya-24.
O presidente sírio reafirmou que vai entregar à ONU documentos sobre o arsenal químico do país, conforme previsto pelo plano russo.
A proposta da Rússia de que o regime sírio entregue suas armas químicas está sendo discutida diplomaticamente com os EUA, que aceitaram adiar um possível ataque militar às forças sírias por conta da negociação.
Os EUA acusam o regime sírio de ter realizado um ataque químico que matou pelo menos 1.429 civis, nos subúrbios de Damasco, em 21 de agosto.
O presidente americano, Barack Obama, anunciou que iria atacar as forças sírias em represália ao ataque químico. Mas ele resolveu dar tempo para analisar a proposta russa, apesar de a encarar com ceticismo.
O regime sírio nega responsabilidade pelo ataque químico e diz que é vítima de terroristas ligados à rede da Al-Qaeda, que tentam "desestabilizar" o país.
A guerra civil síria, que já dura 30 meses, matou pelo menos 110 mil pessoas, criou uma crise humanitária e de refugiados e ameaça a estabilidade política da região, além de ter revivido o fantasma da Guerra Fria, colocando Rússia e EUA em campos opostos.
EUA e Rússia negociam
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, desembarcou nesta quinta em Genebra para tomar conhecimento dos detalhes dos planos da Rússia.
Autoridades dos EUA dizem que Kerry insistirá que o eventual acordo obrigue Damasco a tomar atitudes rápidas para mostrar a seriedade do seu compromisso, a começar pela apresentação de um inventário público e completo do arsenal a ser inspecionado e neutralizado.
Damasco nunca aderiu aos tratados que proíbem a posse de armas químicas, e nunca confirmou se as possuía. A Síria, no entanto, é signatária de uma convenção quase centenária que proíbe o uso de armas químicas.
Falando antes da reunião de Kerry com o chanceler russo, Sergei Lavrov, uma fonte oficial dos EUA disse, sob anonimato, que o objetivo do norte-americano é "ver se há realidade aqui ou não".
As fontes dos EUA disseram ter a esperança de que Kerry e Lavrov definam os termos de uma proposta de resolução a ser votada nos próximos dias pelo Conselho de Segurança da ONU.O presidente russo, Vladimir Putin, tradicionalmente apontado como um vilão pelos governos ocidentais por fornecer armas a Assad e evitar qualquer esforço da ONU para desalojá-lo do poder, publicou um artigo no "New York Times" manifestando oposição à intervenção militar.
Ele argumentou à opinião pública dos EUA que um ataque a Assad ajudaria combatentes da rede terrorista da Al-Qaeda que lutam ao lado da oposição síria. Segundo Putin, há "poucos paladinos da democracia" na Síria, "mas há mais do que suficientes combatentes da Al-Qaeda e extremistas de todos os tipos enfrentando o governo".
A intervenção norte-americana, acrescentou, "aumentaria a violência e desencadearia uma nova onda de terrorismo", além de possivelmente "abalar os esforços multilaterais para resolver o problema nuclear iraniano e o conflito israel-palestino, e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio e o Norte da África. Isso poderia desequilibrar todo o sistema do direito internacional."
Fonte: G1
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