O ataque dentro de um cinema na cidade de Aurora, no Estado americano do Colorado, na madrugada da sexta-feira, trouxe de volta "lembranças ruins" para o administrador de empresas paulistano Leonardo Vidal, de 38 anos.
No dia 3 de novembro de 1999, Vidal, então com 26 anos, assistia, acompanhado de sua namorada da época, à última sessão do filme Clube da Luta em um shopping da zona sul de São Paulo, quando o estudante de medicina Mateus da Costa Meira começou a disparar contra os espectadores.
Em entrevista à BBC Brasil, Vidal contou que soube da tragédia nos Estados Unidos pelo rádio na manhã desta sexta-feira. Ele estava sozinho dentro de seu carro a caminho do trabalho. "Na hora, lembrei-me dos momentos terríveis por que passei. Fiquei muito triste", disse Vidal, em alusão ao episódio que ceifou a vida de três pessoas.
Ataque
"Já passava das 22h30 daquele dia, quando senti um cheiro forte de pólvora vindo da tela. Pensei na hora que era um assalto.
Na verdade, tratava-se apenas do primeiro dos inúmeros tiros que Mateus ainda dispararia", relembrou Vidal.
Meira havia entrado na sessão cerca de 50 minutos após o início da fita. Sentou-se e, pouco tempo depois, levantou-se para ir ao banheiro.
Lá, tirou uma submetralhadora da mochila, que havia comprado por R$ 5 mil horas antes, e atirou contra o espelho.
Quando retornou à sala, caminhou em direção à tela e efetuou o primeiro disparo. Logo depois, o estudante de medicina atirou contra as 28 pessoas que assistiam ao filme, a maioria sentada do meio para o fundo, causando a morte de três delas.
"Não tinha a mínima noção do que estava acontecendo; a sala estava escura. Só ouvia pessoas gritando", afirmou Vidal à BBC Brasil. "A menina que estava sentada ao meu lado (a fotógrafa Fabiana Lobão de Freitas, de 25 anos) morreu na hora.
O rapaz à minha frente (o analista de sistemas Júlio Maurício Zemaitis, de 28 anos), também. Se ele não tivesse se sentado naquela poltrona, talvez eu tivesse morrido no lugar dele", disse.
Tão logo os tiros cessaram, Vidal contou que tateou a parede e caminhou em direção a Meira, na tentativa de ajudar um outro espectador que, aproveitando-se da distração do estudante de medicina, tinha conseguido dominá-lo.
"Quando as luzes se acenderam, pude ter exata noção da proporção da tragédia. Havia pessoas feridas e ensaguentadas", afirmou.
Traumas
Vidal disse que não deixou de ir ao cinema após o episódio e que continua frequentando o mesmo shopping com sua esposa e filhos.
"Não fiquei traumatizado, mas são lembranças ruins que com certeza me marcarão pelo resto da vida", disse.
Ainda assim, até hoje, sempre que lembra do ataque, como nesta sexta-feira, Vidal faz a si mesmo uma pergunta. "Não entendo por que esse sujeito fez isso. A troco de que ele saiu atirando e tirou a vida de três pessoas?", questionou.
Em julho de 2004, Meira foi condenado a 120 anos e seis meses de prisão. Três anos depois, os magistrados do Tribunal de Justiça de São Paulo resolveram reduzir sua pena para 48 anos e nove meses.
Desde fevereiro de 2009, o ex-estudante de medicina está preso na penitenciária Lemos Brito, em Salvador, na Bahia, onde já tentou assassinar seu colega de cela com uma tesoura.
Fonte: Último Segundo
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