O mundo árabe - e especialmente o Egito - ficou obcecado na quarta-feira com a inédita imagem do ex-presidente Hosni Mubarak sendo levado numa cama de hospital para uma jaula dentro de um tribunal onde ele será julgado por envolvimento na morte de manifestantes durante os protestos que o derrubaram.
Uma multidão acompanhou a audiência por um telão no lado de fora do tribunal. Mubarak, de 83 anos, que governou o Egito por três décadas até fevereiro, se diz inocente. Ele participa do julgamento no leito hospitalar conectado a uma sonda.
"Não acredito nisso... ver um presidente ser julgado... nunca imaginei. Fico tão feliz, sinto que o amanhã será melhor, e que o próximo presidente sabe o que vai lhe acontecer se ele se voltar contra o povo", disse Ahmed Amer, 30 anos, funcionário da empresa de água, em frente ao tribunal.
Os egípcios se amontoaram para ver o julgamento em cafés, bancas de jornal ou qualquer lugar que tivesse um televisor.
Mubarak foi a vítima mais proeminente da "Primavera Árabe", onda de rebeliões populares que nos últimos meses varre o Norte da África e Oriente Médio. Em parte por isso, seu julgamento causou fascínio também em outros países árabes.
Pela internet, um ativista barenita que se identifica como Online Bahrain se dirigiu a outros déspotas da região: "Caro ditador árabe, olhe bem para Mubarak. Ele era tão poderoso quanto você. O seu tempo acabou se você não mudar."
Os egípcios consideram Mubarak culpado por políticas econômicas que, dizem eles, encheram os bolsos dos ricos, enquanto muitos dos 80 milhões de habitantes do país sofriam para alimentar suas famílias. A contínua repressão à oposição nas últimas décadas também motivou a rebelião.
Dentro da jaula com Mubarak estão seus dois filhos, Gamal, outrora considerado seu futuro sucessor, e Alaa, que tinha interesses empresariais. Eles também negam as acusações. O ex-ministro do Interior Hadib al Adli e outros ex-funcionários também estão sendo julgados.
Mubarak conversou com os filhos dentro da jaula e eventualmente ergueu a cabeça para acompanhar audiência.
Muitos egípcios achavam que a junta militar que agora governa o Egito usaria a fragilidade dele como pretexto para poupá-lo de ir pessoalmente ao julgamento. Com a presença dele, a imagem fragilizada de um homem que se apresentava como uma figura paternal para o povo lhe valeu alguma simpatia.
"Estou triste, realmente triste. Nunca imaginei ver meu presidente numa cama desse jeito. Afinal de contas, ele é um homem velho, deveria haver misericórdia", disse o encanador Khaled Hassan, 41 anos. "Mas não ligo para os filhos dele, com esses podem fazer o que quiserem."
Antes da audiência, grupos pró e contra Mubarak se enfrentaram em frente ao tribunal, chegando a trocarem pedradas. A polícia interveio. "Oh, Mubarak, fique de cabeça erguida", gritava um pequeno grupo de simpatizantes, composto por homens, mulheres e crianças.
Mubarak pode ser condenado à morte, mas poucos preveem uma pena tão dura - embora alguns manifestantes a desejem.
Ele é o primeiro ex-líder árabe a ser julgado presencialmente. O tunisiano Zine al Abidine Ben Ali, também deposto neste ano, fugiu para a Arábia Saudita e foi julgado e condenado à revelia por casos de corrupção.
fonte: terra
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