O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, pode ter o
mandato cassado nesta sexta-feira (22). Na quinta-feira (21), O Congresso
aprovou a abertura de um processo de impeachment contra Lugo, sob acusação de
mau desempenho das funções e de ser responsável por uma operação policial que
terminou com 17 mortos, entre policiais e integrantes de movimentos sociais, na
semana passada.
Conforme relato do enviado da TV Globo a Assunção, José
Roberto Burnier, o clima está tenso nesta sexta-feira na praça em frente ao
Congresso. Centenas de pessoas que integram movimentos sociais, sem-terra,
camponeses e moradores da capital se aglomeram no entorno do prédio, que está
cercado por 4 mil militares.
“Os manifestantes passaram a noite em vigília de apoio a Lugo e, a todo o
momento, gritam palavras de ordem, chamando de ‘golpe de estado’ o rito sumário
de julgamento político ao qual Lugo está sendo submetido”, relatou Burnier.
O processo de impeachment correu em uma velocidade muito rápida. A votação
foi realizada na Câmara na manhã de quinta-feira e até mesmo parlamentares que
integravam partidos da coalizão do governo votaram contra Lugo. À tarde, o
Senado definiu as regras do processo. A votação sobre se o presidente poderá ou
não permanecer no poder será realizada às 17h30 desta sexta-feira (horário de
Brasília).
No início da tarde, Lugo terá duas horas para fazer sua defesa. Ele havia
pedido 3 dias ao congresso para se defender, mas o prazo lhe dado foi de 24
horas. O governo é minoria e não possui apoio do Congresso.
O presidente afirmou que não vai renunciar e enfrentar julgamento
político.
"Estamos aqui para protestar contra esse julgamento
do nosso presidente, um representante genuíno do povo", gritava Manuel Martinez,
um manifestante que se dizia ser um dos coordenadores da
manifestação.
Negociações com Unasul
Durante a madrugada desta sexta-feira, uma comitiva liderada pelo ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, chegou a Assunção com diplomatas dos países membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para negociar o caso.
Negociações com Unasul
Durante a madrugada desta sexta-feira, uma comitiva liderada pelo ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, chegou a Assunção com diplomatas dos países membros da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para negociar o caso.
Os ministros viajaram de emergência procedentes do
Rio de Janeiro, onde participavam da cúpula do desenvolvimento sustentável
Rio+20. Ao chegar ao Paraguai, a comitiva seguiu do
aeroporto de Assunção direto para a residência oficial de Lugo. Além de
Patriota, integram o grupo os chanceleres Héctor Timerman (Argentina), Luis
Almagro (Uruguai), Alfredo Moreno (Chile), Nicolás Maduro (Venezuela), Rafael
Roncagliolo (Peru), Ricardo Patiño (Equador) e María Angela Olguín (Colômbia),
além da ministra de Desenvolvimento Rural da Bolívia, Nemesia Achacollo, e o
secretário-geral da Unasul, Ali Rodríguez.
Lugo é acusado "de mau desempenho de suas funções em razão de ter exercido o
cargo de maneira imprópria, negligente e irresponsável, trazendo o caos e a
instabilidade política a toda a República".
Entenda o caso
A origem do pedido de impeachment promovido pela Câmara dos Deputados foi a morte de 11 trabalhadores sem-terra e de 6 policiais em um confronto armado na sexta-feira passada, em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, durante a desocupação de uma fazenda.
A origem do pedido de impeachment promovido pela Câmara dos Deputados foi a morte de 11 trabalhadores sem-terra e de 6 policiais em um confronto armado na sexta-feira passada, em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, durante a desocupação de uma fazenda.
"O mau desempenho de suas funções aparece em sua atitude de desprezo pelo
direito e pelas instituições republicanas, minando os cimentos do Estado Social
de Direito proclamado em nossa Carta Magna", afirma a ata de acusação.
Em um processo relámpago, Lugo terá menos de 24 horas para preparar sua
defesa, e a destituição poderá ocorrer já na tarde desta sexta, após votação no
Senado.
Diante do risco de conflito, os bispos católicos do
Paraguai pediram ao presidente Lugo que renuncie
ao cargo "pelo bem do país" e evite atos de violência.
"Falamos com muita sinceridade e franqueza para pedir que ele renuncie ao
cargo e acabe com esta tensão", disse à imprensa o bispo Claudio Giménez,
secretário-geral da Conferência Episcopal Paraguaia (CEP), após se encontrar com
Lugo, um ex-bispo católico.
Fonte: G1
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